Vários estudos demonstraram que, quando as séries de treinamento de força são realizadas mais próximas da falha muscular, a intensidade da fadiga experimentada durante o treino (fadiga peri-treino) é maior. Isso pode ser observado registrando a perda de velocidade durante as repetições de esforço máximo.
Esse é um ponto central da fisiologia do treinamento de força moderno.
O fato de perder velocidade nas repetições ao se aproximar da falha reflete principalmente um acúmulo de fadiga neuromuscular aguda. Vários mecanismos interagem nesse processo, mas podemos resumir os principais assim:
1️⃣ Fadiga central (neural)
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Há redução da capacidade do sistema nervoso central (SNC) em enviar impulsos máximos aos músculos.
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Redução do “drive cortical” para unidades motoras de alta limiar.
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Isso leva a menor recrutamento e menor frequência de disparo dos motoneurônios.
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Resultado: menos unidades motoras ativas para gerar força — e a velocidade da repetição cai.
Referências: Gandevia (2001), Taylor et al. (2006)
2️⃣ Fadiga periférica (intramuscular)
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Dentro do músculo, ocorre:
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Acúmulo de metabólitos (H⁺, Pi, ADP, lactato).
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Disfunção na liberação/recaptura de cálcio no retículo sarcoplasmático.
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Redução da sensibilidade do aparato contrátil ao cálcio.
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Menor eficiência do ciclo de ponte cruzada actina-miosina.
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Tudo isso reduz a capacidade contrátil das fibras ativas, diminuindo a força produzida em cada repetição.
Referências: Allen et al. (2008), Westerblad et al. (2002)
3️⃣ Desacoplamento neuromecânico
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Mesmo que o SNC envie comandos, o sistema muscular começa a responder de forma menos eficiente.
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As pontes cruzadas demoram mais para gerar força.
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A resultante é queda progressiva na velocidade de movimento.
4️⃣ Feedback aferente (inibição reflexa)
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Receptores sensoriais musculares (como os III e IV aferentes) detectam acúmulo de metabólitos e tensão elevada.
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Enviam sinais inibitórios para o SNC → redução da ativação motora como proteção contra dano.
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Contribui para a redução na velocidade de execução.
Referências: Amann & Dempsey (2008)
🔑 Resumo final:
A perda de velocidade ao longo das séries próximas da falha é principalmente causada por interação de fadiga central e periférica, com papel dominante:
✅ Central → Redução de drive neural
✅ Periférica → Acúmulo de metabólitos, falha no acoplamento excitação-contração
✅ Feedback aferente → Inibição reflexa protetora
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